No final da década de 70 do século passado, o ramal ferroviário
de Igarapava da antiga Companhia Mogiana de
Estrada de Ferro teve o seu trecho original substituído por
uma variante que corria mais a oeste
da cidade de Jardinópolis - SP. Tempos depois
os trilhos foram retirados e apenas algumas
estações sobreviveram...
Jardinópolis possui em seu canteiro cinco flores da Mogiana. Estas antigas estações são espécies resistentes,
sobreviventes ao abandono e
sobreviventes ao abandono e
falta de manutenção.
Ao chegar àquele município fomos recepcionados pela primeira flor, "Flor do Cerrado".
Plantada bem no centro da cidade, lugar privilegiado, uma das poucas que recebe algum tipo de cuidado.
Plantada bem no centro da cidade, lugar privilegiado, uma das poucas que recebe algum tipo de cuidado.
Com seus tons esverdeados observa sorrateiramente o movimento dos que por suas instalações
transita. Hoje é terminal rodoviário, uma pena reformas irregulares, como o
anexo na antiga plataforma de embarque, esta descaraterizando este
belo exemplar histórico.
Daquele ponto seguimos para o norte da cidade, uma acanhada estrada de terra foi a maneira
mais coerente de alcançar nosso destinho. Não tardou muito e nos deparamos
com uma venda bem grande, num local ermo, indício que ali em algum momento da história
a movimentação era considerável. Logo atrás em meio a pés
de cana de açúcar, repousa a taciturna
Estação Cresciúma.
Como uma Bromélia que não carece muitos zelos, nossa segunda
flor parece inclinar como se buscasse algo. Seu jardim não recebe reparos há tempos, e suas
dependência são depósitos da fazenda vizinha.
Depois de alguns registros fotográficos, fomos a procura
de novos canteiros e chegamos a Jurucê.
Este gracioso distrito, próximo sete quilômetros de
Jardinópolis possui nossa terceira princesa:
"Flor de Sarandy".
Afável a pequena Estação Jurecê tem hoje várias
funções, dentre elas é cartório,
bar e ponto de ônibus inter municipais. O que um dia foi
o pátio ferroviário agora cede lugar a uma singela
praça. Algumas fotos e certa contemplação,
partimos satisfeitos com o que encontramos.
Não muito longe dali - algo entre dois quilômetros -
percorrendo o que foi o leito ferroviário, uma preciosidade nos aguardava: o "Trevo de Três Pontas".
Conhecida popularmente por Entroncamento, essa amostra
da arquitetura ferroviária possui um projeto raro.
Seu interior é magnífico, no cerne um pé direito duplo
é de encher os olhos, dele
saem três grandes pétalas compondo sua estrutura,
cada qual nos leva a uma paisagem impar.
A primeira te transporta para o que era a plataforma de
embarque e desembarque dos trens
que vinham e iam para Ribeirão Preto e
o ramal de Igarapava.
Dali nós avistamos a ponte férrea sobre o rio Pardo,
desativada! Algo que não nos impede de apreciar
o espetáculo do momento...
A segunda pétala te leva à plataforma dos que partiam
e/ou chegavam do trecho conhecido como Linha do Rio Grande e
Ribeirão Preto.
Ali onde grandes árvores sombreiam a plataforma
um prédio ferroviário chama atenção.
Vim saber depois se tratar da primitiva estação
Entroncamento.
A terceira e última te convida a uma modesta
estalagem, na entrada uma escadaria tomada pelo limo nos conduz aos aposentos. Mesmo estando toda em ruínas
podemos avaliar o quanto era acolhedora e confortante,
privilégio de poucos que podiam arcar com
a hospedagem enquanto aguardava o próximo comboio.
Apenas uma cerca de arame farpado separa de vândalos,
curiosos e admiradores, triangular Entroncamento.
Uma pena ver que essa intrépida obra prima da Mogiana é frágil, desprotegida e corresério risco de extinção.
Em busca da última flor, pegamos uma estrada de terra solta,
destas que quando passa algo cira uma nuvem de poeira
densa. Neste ponto a paisagem dos dois lados do caminho
é tomada por pés de cana de açúcar, monocultura
substituta dos cafezais de outrora.
Ao sopé de uma pequena serra bem na sua porção sudeste, nos
deparamos com o leito erradicado. A estrada vai ladeando-o
até chegarmos a uma fazenda homônima a estação.
Visconde de Parnaíba, uma encantadora flor com título
de nobreza, bem a altura das suas instalações, é
comparada a uma "orquídea" que busca o céu para desabrochar.
A estação aparenta querer fazer o mesmo, sendo
a única de dois andares desta região,
na sua época ficava a observar o vale que se
estendia aos seus pés, hoje,
algumas árvores a impede de fazer o mesmo.
Ali quase tudo é original, plataforma, portas, janelas
a velha caixa d'água, tudo atendendo as necessidades
da fazenda, depósito é um dos seus ofícios.
Aqui, deixamos para trás
o ramal de Igarapava e
seguimos pelo trecho: Linha do Rio Grande.
Nossa saga estava pela metade e ainda viria uma epopeia pela frente.
Mais ali, ao vivenciar estas flores de Jardinópolis constatamos
que cada estação rende ao desprezo que lhe assola,
resiste aos poucos cuidados que lhe abraçam
e agoniza ao destino que as esperam.
É...
De fato, nem tudo são flores!
Jardinópolis - SP